diafragma

Foram quase quatro décadas para que a pílula descesse de seu pedestal de símbolo de liberdade sexual para o baixo nível da difamação pública na grande mídia e nas redes sociais. Merecido?

Bom, tenho lido e escutado muitas mulheres perguntarem-se: Por que nunca me falaram sobre os riscos da contracepção hormonal? Por que nunca me mostraram um DIU, um diafragma? Por que toda vez que falo que quero parar a pílula sou olhada como uma aberração pela minha médica? Por que a pílula foi por tanto tempo oferecida como destino?

Na minha opinião, a pílula coube durante muito tempo no horizonte ideológico da categoria médica porque acreditavam que a mulher necessitava de um método fácil, que não exigisse grande manipulação de suas partes íntimas, que servisse também para contornar seus “ímpetos hormonais”, que usado continuamente permitiria que a mulher deixasse de menstruar.  Um discurso antigo e fundante da ginecologia que enxerga a mulher, seus ciclos e sua fisiologia como patológicos e que caiu como uma luva no interesse de laboratórios farmacêuticos.

Talvez tenha havido uma amplificação sobre os riscos das pílulas, correspondente em escala, ao anterior ensurdecedor silêncio sobre esse assunto. Vamos de um extremo ao outro para quem sabe, em um futuro não muito distante, chegar a um ponto de equilíbrio.

Sim, uma mulher que usa pílula anticoncepcional está sob maior risco de trombose, ainda maior se tiver uma história familiar ou se a progesterona de que é feita a sua pílula tiver efeito anti-androgênico (ciproterona, drospirenona). O que devemos nos questionar é: a quanto tempo os laboratórios sabem disso? Por que só agora essa informação chega às mulheres? Onde estão as instituições que deveriam fazer vigilância de uso de medicações para alertar esse risco às mulheres?

Mesmo que seja um risco pequeno, todas as mulheres devem ter direito a informação para acessar um método que considerem seguro e adequado às suas necessidades. E a pílula além de aumentar o risco de trombose também está implicada no desenvolvimento de diabetes, tumores benignos de fígado, câncer de colo, diminuição de libido, enxaqueca.

Pois bem, chegamos em um ponto em que muitas mulheres já não achariam horrível ter que introduzir um diafragma, pela experiência que tem tido com o coletor menstrual. Muitas não acham tão absurdo que seu fluxo menstrual aumente um pouco com o uso do DIU de cobre. Já não enxergam a TPM como algo que precisa ser escondido debaixo do tapete mas querem olhar para os sintomas, para as emoções que vem à tona nesses dias como uma maneira de se conhecerem, como um chamado para ir à luta pelo que querem.

Então vai ser preciso re-inventar a ginecologia. Se queremos profissionais e serviços que atendam a essas novas “velhas” demandas e interesses vamos precisar cobrar. Cobrar a oferta de métodos não hormonais como diafragma e DIU nas unidades básicas de saúde. Cobrar um outro tipo de exame ginecológico que nos submeta menos e nos informe mais. Cobrar por um atendimento que simplesmente ouça o que temos a dizer.

Para muitas mulheres, depois de avaliar seus riscos e benefícios, a pílula vai continuar sendo o método ideal. Mas para quem está re-pensando sua contracepção, fiz um vídeo falando um pouquinho sobre o Diafragma. Tentei cobrir um pouco das dúvidas que ouço no consultório. Mas se você tiver outras, por favor, deixe uma mensagem pra mim aqui embaixo.

Um pouco sobre contracepção não-hormonal – Diafragma

Halana Faria

Ginecologista do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde

 

 

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7 respostas a “Contracepção não hormonal – o diafragma é pra você?”

  • É muito dificil encontrar medicos que ouçam as reais necessidades femininas. Eu tenho pavor dessa historia de gravidez. Eu nao consigo ter minha sexualidade plena. Toda vez q tenho relaçoes fico paranoica, mesmo tomando pilula. Ja fui atras de laqueadura, pesquisei os meu direitos e fui tratada com uma louca por nao querer procriar. Ai sigo, cheia de panicos e medos e me retraindo e me insentando de ter relaçoes. Esse é um desabafo. Porque eu nao consigo relaxar, mesmo me protegendo. Pq eh tao dificil ser ouvida? O que eu faço? Vivo angustiada.

  • Boa noite, Dra. Halana! Parabéns pelo texto e pelo video!
    Meu nome é Isabela, tenho 21 anos, sou estudante de medicina e sei o quanto é difícil encontrar profissionais que saibam recomendar o método. Muitos não sabem nem fazer a medição do diafragma. Namoro há 2 anos e tomei a pílula Yaz durante esse mesmo período. Nesse tempo eu engordei 5 quilos e fiquei com MUITA celulite (apesar de continuar magra – meu peso foi para 59Kg e tenho 171cm) decidi, então, optar pelo uso do diafragma por recomendação da minha mãe que sempre o utilizou. O problema foi a dificuldade de encontrar um único ginecologista que respeitasse minha decisão e que soubesse medir meu colo. Certa ginecologista me recomendou o diafragma Semina de número 65 mas não me adaptei bem, porque machucava muito meu namorado. Quando me queixei à médica, ela me disse que o diafragma machucar meu namorado era o menor dos problemas. Fiquei chateada pela forma como minha decisão foi tratada, eu definitivamente não queria mais fazer uso de métodos hormonais. Fui em outra médica que não sabia nem como medir e ficou sem reação na consulta. Cansada de procurar e de pagar caro por consultas sem sucesso, decidi perguntar à minha mãe sobre o tamanho do diafragma dela. Ela foi na loja e comprou o de número 80 porque parecia com o tamanho que ela usava na época por recomendação de um excelente ginecologista que hoje é aposentado (minha mãe tinha a mesma altura e peso que eu tenho hoje). Iniciei o ano de 2016 sem hormônios, me sinto ótima e também senti um aumento na libido. Associo o diafragma com tabelinha, camisinha no períodos férteis e método Billings. É necessário ter muita disciplina e também muito companheirismo com o parceiro sexual. Deixo aqui o meu relato e incentivo ao método. Abraços

  • Eu usei anticoncepcional hormonal por exatos 4 meses. Decidi usar o Nuvaring, porque pesquisei muito e pensei que, por não passar pelo sistema digestivo, teria menos efeitos colaterais, sem contar que eu não teria de lembrar todo dia de tomar um comprimido, sempre na mesma hora. Quando mencionei isso à gineco ela achou um absurdo que eu, pessoa claramente esclarecida, tão capaz de pesquisar a fundo todos os métodos antes mesmo de falar com ela, não fosse capaz de tomar um comprimido diário no horário correto. Ela também disse, quando mencionei meus receios acerca de métodos hormonais, que não usá-los equivalia a voltar à era das cavernas. Nunca mais voltei naquele consultório…
    Mas enfim… Nesses quatro meses, lá em 2010, meu TSH voltou a sair da normalidade, eu tive de aumentar minha dosagem de levotiroxina sódica, minha celulite piorou muito, me sentia inchada e passei a sentir asco de produtos lácteos. Eu não podia mais sequer sentir o cheiro de laticínios, quaisquer que fossem, mesmo que utilizados em pequenas quantidades em uma receita qualquer, que me sentia muito mal. Larguei o Nuvaring e passei a usar o combo tabelinha + camisinha, que depois virou tabelinha + CI.
    O fat que eu queria me sentir mais segura. Eu queria usar o DIU. Mas, à época, além de me acharem jovem demais, a inserção do DIU pelo meu convênio custava coisa de R$ 800,00 – quantia que eu não podia me permitir.
    Mas continuei pesquisando e pesquisando. O DIU tradicional me deixava sim um pouco temerosa – vai que meu fluxo realmente aumenta muito, ou que de repente eu começarei a ter cólicas. Nisso, descobri um DIU diferente, de tamanho reduzindo, que parece ter menos possíveis complicações: o Gynefix. Mas ele não está disponível no Brasil. Falei dele com uma outra gineco, uns 3 anos atrás, e ela disse que provavelmente seria liberado por aqui no ano seguinte. Existem pesquisas nacionais para fins de liberação comercial do Gynefix aqui já com 10 anos de publicação. Mas, até agora, nada. Temos só o Mirena, que não quero de jeito nenhum, e o tradicional em T, que costuma gerar os inconvenientes que não desejo. Vocês têm alguma ideia sobre se existe um processo para liberação do Gynefix no Brasil?

  • Minha ginecologista riu da minha cara quando pedi o diafragma, ela disse que não sabia nem medir.. com muita luta, consegui no posto de saúde, mas aí acabou o espermicida no Brasil. é muito difícil não querer medicalizar a vida e o corpo. é muita luta. mas seguimos!!! um presente conhecer teu blog!

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